Wings of desire- Win Wenders
Tenho andado por aqui a tentar encontrar uma forma de
escrever sobre o que vai cá dentro. Quando de repente a meio das lides
domesticas do nada surge a
consciente noção de que não há alturas certas para alguns assuntos.
Ainda não me é fácil mas também sei que só aos poucos irei digerir esta
ausência.
A morte. O desaparecimento.
As pessoas são únicas mas dentro dessa unicidade há aqueles
a quem consideramos imortais, achando sempre que nunca lhe chegará a hora ou
cobardemente considerando que a
nossa chegue primeiro a fim de nos sentirmos mais despreocupados na dor. Mas a
mente trai e ficamos sem chão, ficamos sem tempo para perceber o que não é para
ser compreendido. A morte não se compreende, a morte aceita-se e ponto final,
esta é a minha conclusão ainda que a dor me turve o pensamento.
A vida ensinou-me que a família é feita de afetos e de
pessoas que escolhemos ou que acolhemos no coração. A vida e não só, as
pessoas. As pessoas foram e têm sido verdadeiros companheiros da minha viagem
com a sorte de ter escolhido as pessoas certas que me ensinaram a ser melhor
sobretudo para mim própria. Talvez por achar que as pessoas são o que de melhor
levamos desta vida me seja depois mais difícil cortar laços. E aqui entra
novamente a morte. A morte que me obriga a cortar fisicamente os laços que
considero irrepetíveis e únicos mas que jamais a alma deixa escapar.
Não é uma questão de solidão é tão somente porque há pessoas
que são eternas como tudo aquilo que vivemos com elas, o deslumbramento, o
primeiro beijo, a primeira namorada, a aprendizagem. ... e o que eu aprendi
contigo minha querida.
Pergunto-me se o que olhas agora tem a mesma cor de outros
dias para me agarrar à certeza de que estás bem, e aceitar que a vida te foi
roubada. Por aqui fica a certeza de que és imortal porque te sinto nos momentos de silêncio, todos os dias
e porque o mar continua a perpetuar a tua existência para alem do palpável.
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