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Deviantart
« Tenho os olhos azuis de tanto os ter lançado ao mar o dia inteiro, como os pescadores fazem com as redes; e não existe no mundo cegueira pior do que a minha: o fio do horizonte começou ainda agora a oscilar, exausto de me ver entre as mulheres que se passeiam no cais como se transportassem no corpo o vaivém dos barcos. Dizem-me os passos que vale a pena esperar, porque as ondas acabam sempre por quebrar-se junto das margens. Mas eu sei que o meu mar está cercado de litorais, que é tarde para quase tudo. Por isso, vou para casa e aguardo os sonhos, pontuais como a noite.»
Maria do Rosário Pedreira,in O canto do vento nos ciprestes
2 comentários :
Olá rv,
lindo esse excerto
mas posso dizer algum, se me é permitido?
“…que é tarde para quase tudo”, quase … porque nunca é tarde demais enquanto o coração bater, e assim “… aguardo os sonhos, pontuais como a noite”, porque “É à noite que é belo acreditar na luz“ (Edmond Rostand)
Bjs
mto bonito o q escreveste obrigada,
bjs
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