23.3.13

Vencer

                                                                   The Tutu Project
O recente desaparecimento da minha primeira namorada fez-me conhecer este projecto magnífico de Bob Carey que por meio de fotos espelha a luta solitária, esperançosa e por vezes desanimadora dos doentes de cancro. De salientar, que também ele viveu de perto todo este drama de luta e de perda com o falecimento da mãe vítima de cancro da mama.
As fotos estão agora reunidas num livro e que serve para não nos esquecermos que o cancro seja de que tipo for existe e mata mas mais importante que isso é que exige, de todos, uma vigilãncia que não pode dormir porque ele  é matreiro e ladrão de vidas. A vida é feita de muitas vontades e não de sonhos que ficam por concretizar.



5.3.13

dos Imortais



Wings of desire- Win Wenders

Tenho andado por aqui a tentar encontrar uma forma de escrever sobre o que vai cá dentro. Quando de repente a meio das lides domesticas do nada surge a  consciente noção de que não há alturas certas para alguns assuntos. Ainda não me é fácil mas também sei que só aos poucos irei digerir esta ausência.
A morte. O desaparecimento.
As pessoas são únicas mas dentro dessa unicidade há aqueles a quem consideramos imortais, achando sempre que nunca lhe chegará a hora ou cobardemente  considerando que a nossa chegue primeiro a fim de nos sentirmos mais despreocupados na dor. Mas a mente trai e ficamos sem chão, ficamos sem tempo para perceber o que não é para ser compreendido. A morte não se compreende, a morte aceita-se e ponto final, esta é a minha conclusão ainda que a dor me turve o pensamento.
A vida ensinou-me que a família é feita de afetos e de pessoas que escolhemos ou que acolhemos no coração. A vida e não só, as pessoas. As pessoas foram e têm sido verdadeiros companheiros da minha viagem com a sorte de ter escolhido as pessoas certas que me ensinaram a ser melhor sobretudo para mim própria. Talvez por achar que as pessoas são o que de melhor levamos desta vida me seja depois mais difícil cortar laços. E aqui entra novamente a morte. A morte que me obriga a cortar fisicamente os laços que considero irrepetíveis e únicos mas que jamais a alma deixa escapar.
Não é uma questão de solidão é tão somente porque há pessoas que são eternas como tudo aquilo que vivemos com elas, o deslumbramento, o primeiro beijo, a primeira namorada, a aprendizagem. ... e o que eu aprendi contigo minha querida.
Pergunto-me se o que olhas agora tem a mesma cor de outros dias para me agarrar à certeza de que estás bem, e aceitar que a vida te foi roubada. Por aqui fica a certeza de que és imortal porque te sinto  nos momentos de silêncio, todos os dias e porque o mar continua a perpetuar a tua existência para alem do palpável.